Como começar esta crónica onde tentarei esboçar um retrato o mais fidedigno possível da Marta Raposo?
Talvez mencionando que nasceu em Torres Novas e que, chegada a Montreal aos 9 anos de idade, seguiu o percurso normal das crianças portuguesas dessa época, frequentou a escola portuguesa, a catequese e dançou num rancho folclórico, a miragem do regresso eminente a Portugal sempre presente no lar de imigrantes. Mas talvez ainda melhor, para maior precisão, será transcrever parte da sinopse do” Regressa Urgente”, um documentário de João Sardinha e António João Saraiva, produzido em 2011 e que teve um êxito assinalável:
“(…)Possuindo uma enorme paixão pelo canto e pela língua portuguesa, aos 16 anos iniciou sua carreira musical, tornando-se vocalista de um grupo de música popular portuguesa. No início, porém, Marta rapidamente descobriu que seu verdadeiro amor musical não estava na música popular, mas na “canção nacional portuguesa” – Assim, aos 18 anos, Marta subiu ao palco do Clube Português de Montreal para apresentar fado pela primeira vez, para nunca mais parar. Desde aquela performance – a cada canção, a cada ovação, a cada palavra de encorajamento – a sua paixão pela ‘canção nacional portuguesa’ cresceu, assim como as suas ambições. Granjeado o reconhecimento da sociedade de acolhimento, integrou o elenco de artistas do Festival de Músicas do Mundo de 2004 e de 2005, organizado por Musique Multi Montréal.
Em 2005, após 8 anos cantando fado no Canadá, Marta voltou às origens para realizar um sonho – gravar e lançar um álbum em Portugal, o que aconteceu em 2009.”
Sempre repartida entre dois mundos tão diferentes, regressou ao Canadá em 2010, mas a estadia em Portugal foi uma época charneira na vida da Marta pois ajudou-a a definir prioridades e a estabelecer um rumo mais claro para a sua vida.
Sem querer reinventar a roda, pois já muito foi falado e escrito sobre esta artista, aqui deixo mais uns retalhos respigados da página digital “Fado History”:
“Marta Raposo é licenciada em tradução, e tem formação profissional em administração e jornalismo.
É conhecida da comunidade portuguesa de Montreal pelo seu envolvimento em múltiplos projectos de cariz cultural desde muito jovem, e pela sua veia artística, embebida de fado. Marta Raposo foi porta-voz do Festival Portugal internacional de Montreal em 2016 e 2017, é repórter para o jornal Correio da Manhã- Canada, coordenadora das Missas fadistas de Montreal, colabora com a Rádio Centre-ville de Montreal e é anfitriã em diversos eventos comunitários.
Marta Raposo foi a primeira voz a levar o fado ao Parlamento canadiano em Junho de 2016, por ocasião da primeira comemoração oficial do dia de Portugal no Canadá.
Em 2018, uma noite memorável, actuou acompanhada do mestre da guitarra portuguesa Custódio Castelo no Oscar Peterson Hall de Montreal. Marta foi artista convidada e porta-voz do Festival Portugal Internacional de Montreal em 2015 e 2019.
Recentemente, criou e coordenou o projecto musical solidário Grito pela esperança, partilhado nas redes sociais em Maio 2020. À distância, mobilizou cerca de 13 vozes da comunidade portuguesa de Montreal e cerca de 25 intervenientes da comunidade, incluindo figuras como o Cônsul Geral de Portugal em Montreal, o Ministro das Finanças do Québec, o Diretor da Saúde publica do Québec e muitos mais.”
Este ano, Marta Raposo lançou vários vídeo-clips, em três línguas (português, francês e inglês), de homenagem a Amália Rodrigues pelo centenário do nascimento da grande diva.
É oportuno, e de toda a justiça, referir que, ao longo dos últimos anos, todas as vezes que a Biblioteca José d’Almansor solicitou o seu contributo para animar algumas das suas festas culturais, logo se prontificou para colaborar, com a generosidade e voluntarismo que todos lhe reconhecem.
É essa disponibilidade que a leva a implicar-se, de alma e coração, em causas humanitárias, como recentemente aconteceu com o evento virtual “Ensemble en choeur pour la vie”, em homenagem às vítimas da pandemia que nos flagela.
Para finalizar esta crónica, quero referir que a certo passo do documentário “Regressa Urgente”, a Marta confessou que, por vezes, quando era preciso tomar resoluções, hesitava escolher entre o branco e o preto, ficando-se por um cinzento indefinido. Isso não é verdade, Marta, pois o teu mundo é extremamente colorido, abarcando a riqueza de todas as cores do arco-íris.
Já agora, quem quiser aprofundar um pouco mais o seu conhecimento sobre a Marta e o seu mundo intimista, pode ver um extracto do documentário “Regressa Urgente” no sítio: https://vimeo.com/34578869. Podem estar certos que vale a pena, pois, mesmo já decorridos alguns anos sobre a sua criação, é um registo que contém abundante matéria para refectir e debater.